
Em 1985 o saudoso e extraordinário carnavalesco Fernando Pinto trazia para a avenida um assombroso desfile denominado “Ziriguidum 2001, um carnaval nas estrelas”. Este ano, diga-se de passagem, foi muito difícil para o mundo do samba, pois acabava de ser realizado no Rio de Janeiro o maior evento de música internacional já feito no Brasil, a primeira edição do Rock In Rio. Só se falava em Rock na nossa cidade. Mesmo assim, isso não foi empecilho para o espírito inventivo de Fernando Pinto. Como aqui na terra só se queria ouvir as fantásticas guitarras de Brian May, Angus Young e Adrian Smith, Fernando Pinto pegou sua parafernália carnavalesca e a levou às alturas, ou seja, nas estrelas. A idéia básica do enredo era o carnaval levado para as outras galáxias. Os discos voadores na avenida eram contatos imediatos com o samba. Era o carnaval que queria “colonizar” o espaço sideral. Cada nave transportava foliões e sambistas de tipos diferentes.
A materialização deste carnaval fez abalar vários paradigmas estabelecidos até então nos desfiles de escolas de samba, como ver alas clássicas como a das baianas e bateria, travestidos com fantasias fantasmagóricas carregadas de indumentárias esquisitas como capacetes e asas.
Fernando Pinto conseguiu tal proeza, pois tinha um diálogo muito grande com a comunidade da Vila Vintém, comunicação esta que fez nascer uma identidade entre carnavalesco e agremiação.
A morte prematura de Fernando Pinto ao 40 anos, conseqüênci

a de um desastre de automóvel, interrompeu uma brilhante e promissora carreira, mas as suas obras carnavalescas se transformaram sem sombra de dúvida em um legado para outras gerações de artistas.
Para encerrar, quero dizer que Ziriguidum 2001, em termos de impacto visual e discursivo, tem para o desfile de escolas de samba o mesmo sentido inovador que o filme “2001, uma Odisséia no espaço”, do diretor Stanley Kubrick, teve para o cinema, já que ambos construíram, na passarela e na tela, espaços simbólicos que revolucionaram o entendimento que nossos olhos tinham destas manifestações artísticas.
Viva o gênio Fernando Pinto!
Professor Mariano
É professor de História, comentarista e pesquisador das escolas de samba do Rio de Janeiro
Fotos disponíveis em: www.tradicaodosamba.com.br
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