A Unidos da Vila Santa Tereza lançou no último domingo, 15
de setembro, seu enredo para o carnaval de 2015. De autoria de Vinicius Ferreira
Natal o enredo irá falar dos negros na visão do artista plástico Jean-Baptiste
Debret, que viveu no Rio de Janeiro entre 1817 e 1831, e pintou os hábitos dos
escravos na época. O título é “Aquarela Negra de Debret”.
Confira a sinopse:
Fechou-se o baú de viagem.
Debret bradou: “- Adeus, terra amada, adeus!”
Uma lágrima afrancesada rolou. O destino era o Brasil, de
Portugal e D. João VI.
Desembarcou em choque.
Estupenda natureza! Explosão de cores! E andarilhou a
descobrir a negritude tropical! Maravilhado, ia pintando a natureza, o colorido
negro, o suor escravo.
Viu que a rua era um espaço de negros trabalhadores,
vendedores de carnes e flores,
Mas também de quituteiras e artesãos que juntavam migalhas
para comprar a alforria.
Encantou-se com os mistérios da fé, fosse com as irmandades
religiosas negras – Salve o Rosário e Nosso Senhor Jesus Cristo dos Orixás! –
fosse com escravos ciganos que, misteriosamente, previam o futuro. Saravá,
amém, axé!
Retratou os negros – os comerciantes, mas também os
comercializados - do Mercado do Valongo. Alguns deles, tal qual tigres rajados
de um branco de excrementos ao sol, tinham a árdua tarefa de carregar os
dejetos dos senhores em tonéis de madeira.
Tudo Debret retratava. Extasiado. Chocado. Emocionado.
Se o escravo era o pé e o braço da casa grande,
Debret demonstrava pintando as mãos que cozinhavam o
alimento,
As tolas senhoras que só andavam, na casa e na rua,
carregadas em liteiras e redes,
Os seios das amas que alimentavam aos sinhozinhos,
Os corpos das negras que saciavam os desejos mais sórdidos
do senhor.
Tudo, tudo, pintava Debret
Até quando esqueciam os dissabores e brincavam de ser feliz
Viravam ao avesso e teciam a própria liberdade
Em batuques, risos-choro, taca-farinha!
Mas o “brancote” foi-se embora para o seu país,
Contava que lá era frio, não tinha calor
Faltava um Brasil ali na França para ser a sua inspiração
Sentiu saudades...
Deixou seu legado e percebeu
Que mesmo com o dia-a-dia de resistência e sofrimento
O negro deveria ser pincelado em forma de arte
A mais linda arte humana!
Autor do Enredo: Vinicius Ferreira Natal,Colaboração e
Desenvolvimento: Diogo VillaMaior e Thiago Lacerda
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