E por que não sonhar?
por Eduardo Poeta
Se você não viu a negra Aparecida descer, cantando e requebrando, o “Abacaxi”, via Jonhathas Botelho, com um vestido elegantemente longo feito apenas com chapinhas de "Mineirinho", você não vai entender porque a gente sonha tanto. "Como é linda a nossa união. Eu quero ver a cabrocha sambar... ô ô ô ô O Sacrifício chegou (repete)...", em verde e branco, sem nenhum sacrifício coisa nenhuma, o Sacrifício Copo e Bola saindo do quintal do "Seu" Jair, o nosso quintal, para ganhar o mundo - a avenida. A Ala dos Bruxos - Os Bruxos também amam -, bruxos sim mas, todos índios, todos bugres, que ano após ano não conseguia chegar à avenida com todos os seus componentes.
Tudo culpa das biroscas no caminho e daquela maldita padaria (a da saideira) na esquina da Viçoso Jardim com Noronha Torrezão (ou ali já é Desembargador?), para desespero de "Seu" Maia e do grande Neline Ogeda. Ainda bem que eu ainda era ritmista e não bruxo. Era tudo carnaval; tudo era um grande sonho.
"Eu sou Combinado, eu sou Combinado! Não adianta esse papo furado". Tá pensando o que? Isso impunha respeito, malandro e esquentava mesmo. Os caras tinham até uma águia no abre-alas...
Por falar em Abre-Alas, olha só esse todo espelhado, gigante - seria gigante até em qualquer Marquês de Sapucaí, sim senhor -, tomando conta da Amaral Peixoto e chegando ali de frente para as barcas; dois corações que os espelhos faziam passar por mil e um tal "Pena Branca" - mais um gigante -, embalando outros tantos corações. Eu cantei também: "...e a Corações Unidos, mostra um talismã pra IaIá!" Sonhar não custa nada! É carnaval e eu só quero ser feliz "...com muito amor e TUDO SABE, NADA DIZ".
Mas, não passa agora, não que a CHALEIRA tá queimando o chão da Conceição. Até minha mãe aparece no sonho para falar em uns tais Xavantes do Paraíso, passando ali na rua da praia. Qual é, mãe? Esse sonho não é seu, é meu. No meu eu sou Carioca, Acadêmicos também. Eu sempre gostei dos Impérios, mesmo quando eram gonçalenses que, afinal, eu nasci lá..., herdeiro de Boêmios, "Sinto que a musa me inspira, o meu ser em chama vibra, nesta festa tradicional. Acendem-se as luzes da ribalta e neste palco iluminado, o Império é o ator principal." Ficou com inveja, não é compositor?
Era bonito demais mesmo. E lá vai Orlando do Rosário carregando o seu Império, esse de Niterói. É sonho que não acaba mais. Tinha Branco no Samba (grande Trovoada), muito preto no samba, um Poço do Anil; o nosso bafo não era de Onça, era de Tigre e samba que não acabava mais. Tinha até uma Universidade do samba ali na Mem de Sá, pode acreditar e “Por ser um dia de sábado” (ah... Gelson Martins Vidal), a gente acreditava mais. Tinham lindos cânticos de Sabiás e Canarinhos (Saudades de Luiz Carlos “Camelô”).
Eu sonho mas, hoje sou maduro, naquela época eu era verde, muito verde e não gostava de outro vermelho que não fosse a camisa do meu América. Também não gostava "daquele Gordo". Nada contra os gordinhos, era só "aquele gordo". Mas, como não respeitar o cara? Ele e aquela turma de vermelho; todos UNIDOS para engrandecer o carnaval de Niterói. Os caras eram "sinistros" e tinham até samba do grande Geraldo Babão, meu irmão; lindo “de morrer”, por sinal. "Para ostentar sua opulência, herdades mandou levantar. Brumado- Casté, Santa Luzia e Sabará..." Bons tempos, bons sonhos, com o meu povo (olha lá o Ney Ferreira, os dois Niltons, o Pururuca, o Tuninho cheio de lero-lero, o Beto e suas quatro ou cinco letras...) no final, cantando assim: "...Quebrem taças, levem ouro, bebam vinho, “a Cubango” ganhou o tesouro." Era só o início de um sonho de cinco anos seguidos mas, isto já é uma outra história. Para sonhar depois.
Que o carnaval atual de Niterói possa, com magia e sedução, embalar nossos sonhos futuros.
*A coluna é dedicada a Carlos Alberto Magaldi que, nesta época de sonhos estava aí, incentivando e apoiando o samba, para que hoje a gente ainda possa sonhar e a Albano de Mattos Ferreira, “aquele gordo”; talvez, o maior personagem da história dos nossos carnavais.
** Foto: "Mica e seus garotos", um dos destaques do desfile da Unidos do Viradouro em 1975
*** O áudio é uma cortesia e um carinho inestimável do amigo André Lúcio de Oliveira do Departamento Cultural da Viradouro.
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Eduardo Poeta (por ele mesmo):
"Sou da Jonathas, acesso ao "Abacaxi" mas, comecei no Bugres do Cubango. Fui ritmista, empurrador de carro alegórico, diretor de Harmonia, desfilei até com camisa de APOIO, seja lá o que for isso. Sei sambar, mané, logo, podia ter sido passista, já cantei samba na avenida mas, sou um péssimo intérprete e, não me chamaram mais; só não fui baiana porque isso não pegava bem na minha época. Também já fui compositor e consegui até ser Tri-campeão na Academia de Niterói (Cubango;uma paixão) e Hexa-campeão na princesa do "Cavalão" (Salve a Mocidade de Icaraí;um grande amor); Sou sambista.Ponto. Agora, já que deixaram, vou tirar uma onda de colunista na CADÊNCIA. Vem comigo!"
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