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terça-feira, 18 de agosto de 2020

OPINIÃO. Unidos do Sem Carnaval, sem trabalho

terça-feira, 18 de agosto de 2020
O colunista da Cadência da Bateria, Professor Mariano, analisa os impactos que o provável cancelamento dos desfiles de 2021 podem causar aos profissionais que dependem desse trabalho e ajudam a confeccionar a maior festa popular do mundo. Confira a coluna do Professor:

foto: Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil

Unidos do Sem Carnaval, sem trabalho
por Professor Mariano

As escolas de samba, sem dúvida são agremiações culturais, que mais identificam a nossa maneira de ser brasileiro, tanto aqui quanto no exterior. Os desfiles que acontecem todos os anos na passarela Darcy Ribeiro, o sambódromo, e que são transmitidos pela televisão para o mundo afora ajudou a sedimentar essa identidade da escola de samba como referencial máximo da nossa cultura. 

O samba, gênero cultural trazido pelos negros da África no fluxo da escravidão, através dos batuques religiosos, se forjou no Brasil, com malícia e malandragem própria na região carioca da "pequena África", e se tornou o alicerce da nossa música popular. 

Todo esse legado e importância da escola de samba na nossa cultura, sobretudo no carnaval,  foi atingido em cheio pela crise sanitária do Covid-19, que ajudou a escancarar nossas contradições econômicas do capitalismo selvagem. 

Aqui, no Rio de Janeiro, a LIESA, Liga Independente das Escolas de Samba, que administra os desfiles  do Grupo Especial e negocia com o poder público a transmissão televisiva, vai decidir em setembro se vai ter desfile ou não. Mas, a princípio, a proposta da LIESA, é somente fazer carnaval se até lá, já tivermos no mercado uma vacina anti-covid19. 

Em São Paulo, a prefeitura e as escolas de samba, já bateram o martelo, e decidiram que o carnaval só será realizado em junho de 2021 se também já tiver uma vacina. 

Toda essa discussão em torno do adiamento ou não do carnaval deve ser nacional e deve também se relacionar ao plano da cultura popular. O carnaval no Rio e em todo Brasil é uma festa popular, que arrecada uma série de divisas para o governo. Além disso, gera uma série de empregos: marceneiros, carpinteiros, aderecistas, costureiras..., uma legião de trabalhadores sobrevive desse trabalho. São diversas profissões agregadas ao mundo do carnaval e ajudam a confeccionar a maior festa popular do mundo: os desfiles das escolas de samba.

Portanto, o carnaval, como diz a antropologia, é coisa séria e deve ser discutida também dentro dessa crise terrível que estamos atravessando. Algumas escolas de samba já estão demitindo seus profissionais, pela insegurança do momento. Não estamos de maneira nenhuma defendendo a realização de carnaval se a pandemia continuar a ceifar tantas vidas. Pelo contrário, somos a favor do seu adiamento total em 2021. Mas por outro lado, o poder público e as próprias escolas de samba têm que tentar amenizar o impacto nas vidas dos trabalhadores do mundo do carnaval da terrível crise. Ou remanejar esses profissionais para outros eventos, que possam vender sua força produtiva, para ter seu sustento, viabilizando para esses trabalhadores um crédito social cultural. Enfim, algo precisa ser feito para amenizar os efeitos dessa crise da pandemia nas vidas daqueles que depende da oficina carnavalesca.

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PROFESSOR MARIANO

Historiador e pesquisador do carnaval, um dos fundadores do projeto Cadência da Bateria. 


Em suas colunas aborda o carnaval considerando os aspectos políticos e sociais e a importância dos desfiles para a construção da memória da cultura popular.
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