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segunda-feira, 9 de março de 2020

Pega a visão! Colunista da Cadência destaca a importância social do desfile da Mangueira

sexta-feira, 9 de março de 2020
André Gustavo analisa o desfile da Mangueira no último carnaval,  constata um show emocionante, que foge do modelo convencional e nos convida a uma reflexão: afinal, o que valeu mais, passar uma mensagem de cunho social e político ou ganhar o carnaval?

(foto: Gabriel Nascimento | Riotur)

Desfile da Mangueira de 2020 sai da avenida direto pra Historia
por André Gustavo

Todas as pessoas que me conhecem, e comigo compartilham a paixão pelas escolas de samba, sabem que meu enredo preferido do ano foi o da Manga. Nunca fiz segredo disso. 

No período pré carnavalesco, tive alguns debates e até desentendimentos defendendo a pertinência política e a importância social do tema proposto e desenvolvido pelo carnavalesco da escola e sua equipe. Fui um empolgado torcedor do samba escolhido durante a disputa e sempre o coloquei como destaque num ano em que as agremiações nos presentearam com uma das melhores safras dos últimos anos e aguardava com bastante entusiasmo o momento de ver esse enredo em desfile na avenida. Por conta disso, contava ansiosamente o tempo para a chegada da festa de Momo em 2020. 

O desfile, longe de ser a explosão que os entusiastas como eu esperavam, surpreendentemente foi um tanto frio, causou mais estranhamento do que a catarse imaginada. Tendo ocasião de novamente assistir o desfile, agora mais relaxado, prestando maior atenção nos detalhes e sem aquela ansiedade de que alguma coisa não saísse como o esperado, pude constatar que o objetivo do Leandro foi, ainda que de forma carnavalizada e no contexto do espetáculo que é o desfile, muito mais nos passar uma mensagem. Uma mensagem lindíssima, de cunho social e político profundo e totalmente oportuna ao momento que vivemos. Entendi que a Manga não desfilou, simplesmente. Fez uma performance. A apresentação da escola foi uma passeata de protesto em forma de procissão sagrada, respeitando o tema, o homenageado, que foi apresentado ao público encarnado nas mais diferentes formas de opressão. 

Foi algo lindo! Revolucionário! Um show emocionante que não cabe nesse 'modelinho' de transmissão que se preocupa mais em mostrar o superficial, o glamourizado, as celebridades, do que a ópera popular cheia de simbolismos e significados, que respeita a inteligência e capacidade interpretativa do público. 

No final das contas cheguei a conclusão que esse desfile foi algo genial. Muito acima das expectativas. Teve intenção de causar e causou. Ainda que sofresse penalizações, talvez até justas, do rigor intransigente e cerceador, castrador até, dos quesitos e dos olhos frios e "bem treinados" dos jurados. Mas, ao que tudo indica, para a escola de samba que ousou desafiar os poderes constituídos e questionar as estruturas, a mensagem que precisava ser entregue, foi na íntegra. 

A sociedade ouviu e viu o que era necessário dizer. O grito de alerta, que estava engasgado na garganta foi colocado pra fora: O racismo mata. Como matam a homofobia, a transfobia, a misoginia, o machismo, a discriminação social, religiosa bem como todo tipo de preconceito. E cada vez que alguma pessoa é vítima de um crime com tais fundamentos, Cristo morre novamente junto. Essa foi a visão que a maior escola de samba do planeta e seu genial carnavalesco quiseram nos passar, dando uma porrada mais que bem dada na hipocrisia de uma sociedade cada vez mais cínica, violenta e moralista. 

Se a favela pegou ou não, o tempo dirá. Vencer o carnaval? Diante do cumprimento dessa sagrada missão, conquistar mais um título seria apenas um detalhe.
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