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domingo, 5 de março de 2017

Repensando os desfiles e as escolas de samba

O colunista da Cadência, Professor Mariano analisa os incidentes ocorridos na Marquês de Sapucaí em 2017, e alerta para os riscos que a decisão da Liesa podem causar aos desfiles das das Escolas de Samba.

Repensando os desfiles
e as escolas de samba
por Professor Mariano

Os acontecimentos ocorridos nos desfiles das escolas de samba Paraíso do Tuiuti e Unidos da Tijuca e, o resultado da apuração dado pelo jurado da Liesa, nos dá a oportunidade de repensar criticamente os desfiles das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro.

Senão vejamos: os dois acidentes na pista, causados pelas alegorias das duas escolas, não foram, uma fatalidade, como por exemplo, a queda da porta bandeira da Unidos de Padre Miguel no acesso A. Mas sim, fruto de um trabalho mal realizado pela equipe de carnaval das duas escolas. Isso é a primeira constatação que nós que vivemos o carnaval o ano todo, temos que ressaltar perante a opinião pública. 

Dito isto, passando a analisar os resultados dados pelos jurados da Liesa aos desfiles, perceberemos uma discrepância absurda que não pode passar incólume ao crivo crítico dos analistas de carnaval. Como uma escola que não desfilou, não evoluiu e teve uma alegoria sofrendo uma hecatombe em plena avenida, pode não ficar na última colocação de um julgamento minimamente sério? 

O acidente com o carro alegórico do Paraíso da Tuiuti ocorreu logo no início do seu desfile, portanto, deu tempo da escola se organizar e tocar seu cortejo até o seu final. Ao contrário da Unidos da Tijuca que sofreu um colapso estrutural em seu desfile em pleno exercício evolutivo. 

No dia da abertura dos envelopes a Liesa numa atitude no mínimo bizarra, decidiu mudar o regulamento da disputa e não rebaixar nenhuma escola. Absurdo total! Mas senão bastasse isso, os jurados da mesma Liesa fizeram ainda pior não colocaram a Unidos da Tijuca no lugar devido dela. Ou seja, o último lugar. 

Essa atitude ridícula do jurado da Liesa desqualifica-o como um todo para continuar julgando qualquer coisa daqui para frente. Todos deveriam pedir demissão no mínimo. Se tivessem autocrítica dos seus trabalhos e ética. 

Temos que aproveitar esse episódio patético criado pela Liesa, para rediscutir o desfile das grandes escolas de samba do Rio de janeiro. Cada escola ganhou 2 milhões do poder público para mostrar o maior referencial da nossa cultura o samba. Ao longo de décadas as escolas de samba viraram uma grande paixão do povo brasileiro. A disputa na quarta feira de cinza mobiliza milhares de torcedores. Cada um com seu orgulho de desfilante sabe como foi seu desempenho na pista. 

Há muito tempo estamos presenciando resultados que não condizem com que vemos na avenida no julgamento dos jurados da Liesa. Se recordarmos apurações anteriores, constataremos várias críticas entre a mídia especializada e principalmente entre os próprios sambistas em relação ao julgamento. Nos últimos anos inclusive virou regra do jurado da Liesa, rebaixar a escola que veio do grupo de acesso. 

Voltando para o resultado do carnaval de 2017, talvez seja nesse ponto, que se encontre o grande escândalo do resultado dado pelo jurado. Ou seja, podia cair o mundo, como caiu, na passarela Darcy Ribeiro, que a Tuiuti seria a rebaixada do carnaval 2017 pelo júri da Liesa.

Torcemos, para que o título merecido de duas escolas tradicionais do carnaval carioca Portela no Especial e Império Serrano no acesso A, inspirem nossos sambistas que realmente querem o bem do samba, e existem muitos, tomem a dianteira de um movimento solidário entre eles, que possa por em xeque, essa política de “mandonismo” que se instalou no mundo do samba. Desde que a escola de samba passou a ter donos, ela nunca mais foi à mesma. Pois se afastou do povo, passando a ser mero instrumento político nas mãos dos aparelhos de poder econômico e estatal.    
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PROFESSOR MARIANO

Historiador e pesquisador do carnaval, um dos fundadores do projeto Cadência da Bateria. 



Em suas colunas aborda o carnaval considerando os aspectos políticos e sociais e a importância dos desfiles para a construção da memória da cultura popular.  
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