por Fernando Paulino
Ele faz 80 anos, sua obra
imortal “Martim Cererê” faz 40 e depois de deixar a Paraíba, 70 anos passados,
Zé Katimba se prepara para voltar a sua terra natal. Trata-se de José Inácio
dos Santos, nascido em Guarabira, no interior paraibano, de onde saiu aos 10
anos de idade, com o pai e a mãe, fugindo da seca.
O menino Zé se iniciou no
samba quando, morando num morro carioca, batia na lata, antes de enchê-la de
água pra levar pra casa. Nas peladas de futebol, virou Catimba, tal o seu
estilo catimbeiro de jogar. Depois, com seus sucessos musicais, tornou-se Zé
Katimba, com K. No mundo do samba, em 1959, ajudou a fundar o Grêmio Recreativo
Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense, em Ramos. Na vida, foi de tudo um
pouco: camelô, limpador de fossa, porteiro, ajudante de pintor. No samba,
também: puxador de corda, mestre-sala, dirigente, compositor. É um campeão dos
carnavais.
Este ano, o samba-enredo
Martim Cererê – que virou trilha sonora da novela Bandeira 2, de Dias Gomes –
faz 40 anos de criação. “Foi o ano que conseguimos furar o bloqueio das quatro
grandes escolas da época. Todos os anos, as quatro primeiras colocações ficavam
entre Mangueira, Portela, Império e Salgueiro. Mas no Carnaval de 72, ficamos
com o quarto lugar, com o enredo Martim Cererê. O samba bombou. O compacto que
lançamos vendeu mais de 700 mil cópias”, lembra Zé Katimba. “Martim Cererê”
Katimba fez em parceria com Gibi.
Engana-se quem pensa que
Katimba, chegando aos 80 anos de idade, parou de produzir. Ele, lépido e
fagueiro, está na disputa do samba da Imperatriz para o Carnaval 2013. O enredo
é “Pará: Muiraquitã do Brasil”. A letra do Katimba fala que “eu serei
vitorioso, um romeiro orgulhoso / no Círio de Nazaré / Vou cirandar, no Siriá,
vou me acabar / quando a Imperatriz passar”.
Um detalhe importante e
inusitado: Katimba é o único compositor que concorre sem parceria. Tem sambas
assinados por 6, 8 às vezes até 10 parceiros. Katimba, não. Aquele samba que
está empolgando os ensaios da verde, ouro, prata e branco da Leopoldina é
criação de uma só pessoa: o octogenário Katimba.
Mas a vontade de rever suas
origens mexe com José Inácio dos Santos. Amigos da Paraíba estão organizando
junto com autoridades locais um grande evento para comemorar, em novembro, os
80 anos de Katimba em alto estilo. Quem sabe, surge mais uma obra-prima
musical.
Antes disso, porém, as
comemorações dos 80 começam por Niterói, cidade onde mora há mais de 30 anos.
No início de outubro, será feita uma grande roda de samba em sua homenagem.
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Fernando Paulino é jornalista, autor do livro
“Zé Katimba – Que grande destino reservaram
pra você”
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