16 de maio de 2017
O Paraíso do Tuiuti apresentou a sinopse de seu enredo para o Carnaval 2018 na noite da última sexta-feira, 12 de maio. A agremiação de São Cristóvão terá como tema ``Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?``, enredo referente aos 130 anos da Lei Áurea, assinada em 1888 que será desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos.Durante o evento a diretoria da agremiação anunciou que não haverá disputa de samba este ano. O samba será feito por três compositores oriundos da escola - Dona Zezé, Aníbal e Jurandir - e outros dois consagrados do gênero - Moacyr Luz e Cláudio Russo. Para a diretoria da escola a ideia, além de premiar três figuras históricas de sua ala de compositores, visa garantir ainda mais qualidade à obra. O samba-enredo tem previsão de ser apresentado no mês de agosto.
Confira a sinopse do enredo:
G.R.E.S. PARAÍSO DO TUIUTI - Carnaval 2018
MEU DEUS, MEU DEUS, ESTÁ EXTINTA A ESCRAVIDÃO?
Velha companheira de caminhada da Humanidade.
A ideia de superioridade, divina ou bélica, cobriu-a
com o manto do poder.
Pela força ergueu impérios e sustentou civilizações.
Pela alienação justificou injustiças e legitimou a
discriminação.
Ganhou nome quando eslavos viraram ‘escravos’ nas mãos
dos bizantinos.
Dominou mundo afora, invadiu terras adentro, expandiu
a ganância mercantilista e fez da exploração do continente negro seu maior mercado.
Viu senhores mouros do norte africano ostentarem
servos de pele alva e olhos azuis mediterrâneos, enquanto negociavam artigos de
luxo e peças de ébano.
Cativou povos, devastou territórios, extraiu riquezas
do solo e de animais em nome de coroas europeias.
Era rentável negócio até para chefes negros que a
alimentavam com gente de sua gente.
Levou uma raça a oferecer-lhe da própria carne.
Separou famílias, subjugou reis, aprisionou
guerreiros, reduziu seres humanos a mercadorias.
Calunga Grande muito ouviu os lamúrios dos Tumbeiros
abarrotados em sua ordem.
Calunga Pequena muito acolheu os vencidos pela sua
sentença.
Plantou seus filhos em nossos canaviais, cafezais e
minas de ouro e diamantes.
Lavou com sangue negro o chão das senzalas e os
pés-de-moleque das cidades.
Foi senhora de todos os senhores, mãe das sinhás,
amante dos feitores.
Marcou com ferro os que ousavam lhe renegar, levantar
a cabeça.
Perseguiu os de alma indomável que corriam ao encontro
do sonho quilombola.
Quimeras da liberdade de uma raça pirraça fortificadas
entre serras e matas que teimavam lhe enfrentar.
Porém, as eras de prática envenenaram até as mais legítimas
das lutas quando expuseram suas raízes humanas nos quilombos.
Provocou precisa e astuta fusão entre crenças
apadrinhadas pela fé, amparo do rosário das desventuras nesse benedito
logradouro.
Coroou santos reis e sagradas rainhas ao som de
louvores batucados. Fitas da linha do tempo presente e passado. Espelhos da
ancestralidade.
Ouviu os ventos soprados de longe que ressoaram brados
iluminados de liberdade pelas paragens brasileiras.
Abolir-te foi palavra de ordem.
Utopia e justiça para uns. Falência e loucura para
outros. Caminho sem volta para muitos.
“O homem de cor” ganhou voz pelas ruas, força nos
punhos da população, para além das leis parcialmente libertadoras.
Contudo, mesmo enfraquecida, sobrevivia sob a égide dos
grandes latifundiários e nas vistas grossas da hipocrisia.
Ferida com a ponta afiada da pena de ouro que a áurea
princesa empunhou ao assinar sua redentora extinção, maquinada por uma sedenta
revolução industrial de sotaque inglês, caiu.
Uma voz na varanda do Passo ecoou:
- Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão!
Folguedos, bailes, discursos inflamados e fogos de
artifício mergulharam o povo em dias de êxtase e glória.
Pão e circo para aclamação de uma bondade cruel, pois
não houve um preparo para a libertação e ela não trouxera cidadania, integração
e igualdade de direitos.
Mais viva do que nunca, os aprisionou com os grilhões
do cativeiro social.
Ainda é possível ouvir o estalar de seu açoite pelos
campos e metrópoles.
Consumimos seus produtos.
Negligenciamos sua existência.
Não atualizamos sua imagem e, assim, preservamos
nossas consciências limpas sobre as marcas que deixou tempos atrás.
Segue vivendo espreitada no antigo pensamento de “nós”
e “eles” e não nos permite enxergar que estamos todos no mesmo barco, no mesmo temeroso
Tumbeiro, modernizando carteiras de trabalho em reformadas cartas de alforria.
Jack
Vasconcelos
carnavalesco
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