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terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Sob o risco da volta da censura! E se isso chega ao carnaval?

terça-feira, 22 de janeiro de 2019
Em tempos monocromáticos, de proibição de performances artísticas, fechamentos de espaços culturas e intolerância, nosso colunista André Gustavo analisa o futuro das escolas de samba e alerta os sambistas sobre como essa onda conservadora pode afetar o carnaval. Se você veste azul da Portela, rosa da Mangueira, verde do Império, vermelho do Salgueiro, amarelo, preto, ou as cores da sua escola de coração, vem conosco nessa leitura:

fotos desfile da Mangueira 2018 (divulgação Mangueira)

Sob o risco da volta da censura! E se isso chega ao carnaval?
por André Gustavo

Na semana passada tivemos o desprazer de constatar que, ao que tudo indica, a volta da censura está realmente em alta nos novos governos de linha conservadora e intolerantes, que tomaram posse no último dia 1 de Janeiro. Depois do desprazer de vermos presidente censurando a Coaf que fez denúncias contra seu filho e o motorista mais milionário da História desse país, tivemos ministra querendo estipular normas de etiqueta, censurando certas cores para quem nasceu sob determinado sexo (não digo gênero para evitar possível censura ao texto), e no domingo passado fomos brindados com a atitude canhestra do recém empossado governador dos cariocas censurando a cultura, pasmem, ao proibir uma performance artística que fazia referência a tortura no período da ditadura (quando, por sinal, a tortura comia solta, em pertinente parceria com a censura) no encerramento de uma exposição na Casa França Brasil. Todas essas, situações absurdas e inadmissíveis, que deveriam causar repúdio e protesto (como ocorreu no caso da exposição, cuja performance censurada um dia antes e que ocorreria no interior do espaço cultural, foi realizado no dia seguinte do lado de fora, com sob o aplauso de um grande e entusiasmado público e o olhar intimidador da PMERJ) no seio da sociedade e fazer artistas em geral colocarem de molho as suas barbinhas. Inclusive nós, bambas, e nosso patrimônio maior, as Escolas de Samba além de nossa festa máxima, o Carnaval.

Fico imaginando se essa onda de censura pega. E se voltar a moda a tutela cultural? O chancelamento da arte obrigando nossos artistas a submeterem suas obras e criações a análise dos especialistas do nada que, a serviço do poder público e sem o menor senso estético, decidem a seu bel prazer ou orientados por critérios técnicos morais e políticos totalmente contestáveis, o que poderá ou não, ser liberado à apreciação de nossa sociedade. E quais seriam os efeitos de tal prática em nosso carnaval?Fico imaginando o presidente da república querendo impedir um desfile como o da Paraíso do Tuiuti no ano passado porque considera que a escravidão no Brasil não teve o impacto devastador ao continente africano, nem causou ao povo preto os prejuízos que os professores doutrinadores e os livros de história ideológicos apontam. E o desse ano também poderia ser alvo de retaliações, pois tem quem enxergue no enredo crítico do bode Ioiô, eleito vereador em Fortaleza, uma referência a um certo político baixinho, barbudo, nordestino e que converteu-se em esperança popular, porém encontra-se, atualmente, prisioneiro numa cela da PF no Paraná. Penso ainda na possibilidade da tal ministra monocromática, vociferando histriônica, contra as mulheres vestindo azul na Portela e os homens fantasiados de rosa na Mangueira. Quero nem imaginar o que ela falará, ou fará, a respeito da turma LGBT, inerente ao carnaval, deslumbrando e tornado nossos desfiles ainda mais alegres e coloridos. E quanto ao enredo da Mangueira que além de questionar a própria história, invertendo seu conteúdo para trazer à tona a essencial participação daqueles injustamente esquecidos e ocultados pelos acadêmicos: os populares. Os mesmo que são os criadores e artífices dessa maravilhosa festa. Dá pra ter uma ideia de como o governador carequinha (o adorável palhaço que me perdoe, não resisti) e adepto da violência policial e do terrorismo de estado, deve estar contente com a citação à vereadora assassinada Marielle Franco que samba e enredo trarão. Não duvido que veladamente tente convencer a direção e o carnavalesco da Manga a deixar isso pra lá e fazer carnaval ao invés de política.

Temo, só de pensar, na nudez voltando a ser castigada, na possibilidade de perseguição aos enredos críticos e a seus autores, na ameaça de proibição aos temas ou referências políticas nas fantasias e adereços. E até, quem sabe, na mão pesada do catolicismo vetando imagens e alusões aos dogmas da doutrina do Cristianismo Romano. Como já ocorreu no passado com a Beija Flor (quem não se lembra da proibição do Cristo mendigo) e mais recentemente com o carro alegórico da Mangueira que fundia Jesus e Oxalá numa mesma imagem representando a tolerância religiosa, e que foi vetado no desfile das campeão (numa lamentável vitória da intolerância religiosa) ficando melancolicamente isolado num canto qualquer do barracão da verde e rosa. Ou, ainda na pior das hipóteses, a vitória final e definitiva do cristianismo evangélico neopentecostal, acabando de vez com a nossa festa popular e a alegria geral. Certamente isso faria a festa e a alegria de muita gente. Inclusive daquela ministra terrivelmente cristã.
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é professor, pesquisador e apaixonado por samba e carnaval, a despeito de tudo!

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